Transmissão ao vivo impulsiona negócios em tempo real

Transmissão ao vivo impulsiona negócios em tempo real

Mercado de live commerce deve movimentar US$ 170 bilhões no mundo em 2020

Ao retornar de uma viagem à China há pouco mais de um ano, Estevan Sartorelli, CEO da Dengo, estava convencido de que era preciso humanizar as vendas digitais de seus chocolates, aproximando mais o vendedor do consumidor, como nas lojas físicas. Não era preciso inventar nada, bastava seguir o que os chineses fazem desde 2016, ao colocar no ar milhares de lives com participação de mais de 600 milhões de usuários e resultados surpreendentes. Na prática, vendedores apresentam ao vivo produtos que
podem ser comercializados on-line, permitindo aos consumidores interagir e comprar das marcas em tempo real.

“A ideia era lançar o projeto Loja ao Vivo no segundo semestre deste ano, mas a pandemia atropelou e colocamos no ar em maio, numa combinação das plataformas de e-commerce, streaming e chat de comunicação”, diz Sartorelli. “Os resultados superaram as expectativas. Tivemos aumento de 10% no fluxo do site e o tíquete médio subiu cerca de 5%.”

A Dengo deu o pontapé inicial para a participação de empresas brasileiras nesse mercado, que deve movimentar US$ 170 bilhões no mundo em 2020, contra US$ 60 bilhões 2019, segundo a consultoria IResearch. Um universo que a Gran Cru, maior importadora de vinhos da América Latina, investiu com pioneirismo no seu segmento ao levar a experiência da loja para a tela do smartphone. “Nossa meta em agosto era atender mil pessoas por dia em transmissões com duração de seis horas”, diz Alexandre Bratt. “Três meses depois, nossas sessões de live commerce atendem 2.500 pessoas por dia, alcançando R$ 1 milhão em transações no período”. A audiência já
responde por cerca de 10% do acesso ao site, com taxa de conversão 50% maior do que a da loja virtual e tíquete médio de R$ 400.

De acordo com Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, a grande diferença entre a loja virtual e o live commerce é a interatividade. “O público participa da experiência, tira dúvidas, faz comentários e compra, humanizando a operação”, afirma. “Na pandemia, as lives de música no Brasil passaram a integrar o ranking dos maiores eventos do mundo, o que sinalizou que, ao levar entretenimento para o vídeo, é possível alavancar a venda de produtos”.

Foi o que fez a C&A ao lançar a plataforma Tudo Combinado, que inclui a exibição de um programa ao vivo no YouTube. Enquanto os artistas participam de jogos relacionados ao universo da C&A, os clientes têm acesso a códigos e promoções via QRCode que os levam para o site ou app do varejista. “O projeto foi concebido em parceria com a consultoria de inteligência artificial Winnin, que identifica o comportamento das pessoas por meio de consumo de vídeos”, diz Mariana Moraes, head de marketing. “O objetivo é entreter e trazer tendências de moda que provoquem
desejo pelos produtos da loja”. Deu certo. O programa alcançou mais de 200 mil visualizações e gerou ao redor de R$ 2,5 milhões de receita.

Para Lyana Bittencourt, do Grupo Bittencourt, trata-se da grande transformação do varejo, porque humaniza a compra on-line e impacta nos resultados das vendas, além de aumentar o engajamento do consumidor com a marca.

“Isso provoca uma mudança no papel da loja física que, ao se tornar palco para o e-commerce, tem sua área de abrangência potencializada e derruba a barreira de consumo até para o varejo de luxo”.

Gerar fluxo para a loja física é, segundo Caito Maia, fundador da Chilli Beans, um dos objetivos da rede ter adotado o live commerce. “Já fizemos duas edições, uma para compra pela exclusividade, pela maneira como contamos a história. Com isso, aumentamos em 13% as vendas das lojas físicas”.

A Huia, do Grupo Stefanini, desenvolveu a Alive, solução que permite que o cliente coloque produtos no carrinho de compra enquanto assiste o vídeo, clicando diretamente na tela do dispositivo. “Acreditamos que formatos menores, entre 15 e 60 minutos, sejam mais rentáveis”, diz o CEO Alessandro Canduro. “O importante é que sejam frequentes, para que o consumidor crie o hábito de participar e a conta faça sentido para quem quer vender”.

Por Katia Simões - Valor Econômico