De sêmen de touro reprodutor a academias especializadas, passando por objetos de design, alimentação vegana, serviços dos mais variados tipos até iniciativas ligadas às grandes indústrias dispostas a abrir um canal direto com o consumidor final. O número de novas marcas que desembarcam no mercado de franquias cresce a cada dia. A justificativa é simples: o setor registrou números positivos mesmo na crise, divide os custos para expansão entre franqueador e franqueado, e oferece riscos menores, mesmo para marinheiros de primeira viagem.
Além disso, assim como já vem acontecendo nos Estados Unidos, os multifranqueados ou franqueados profissionais, que formam suas pequenas redes, começam a se multiplicar por aqui, despertando o interesse de marcas que desejam franquear e não têm expertise de gestão na área.
“A gestão tem hoje um peso muito forte e esse é nosso maior atributo. Serviço e experiência têm sido muito avaliados pelo investidor”, diz Erik Cavalheri, dono de mais de 30 lojas das marcas O Boticário, New Era, Sunglass Hut e Quem Disse Berenice. “Por conta disso, tenho sido muito procurado pelas marcas para iniciar novas operações de franquias.”
Na visão de um consultor do mercado, propostas nessa linha serão cada vez mais constantes. “O cuidado está na escolha da marca, analisando os números em detalhes e não apenas a força do produto”, afirma. O consultor de campo observa que o franchising tem sido visto como uma boa modalidade para as indústrias chegarem ao varejo, um movimento que não é novo, mas que se intensificou muito nos últimos três anos com a necessidade de multiplicação de canais. É, ainda, a estratégia escolhida por marcas que tradicionalmente não franquiam mas que, em determinadas regiões, por questões políticas, econômicas e de capilaridade, acabam franqueando.
Um bom exemplo é o da fabricante de malas Samsonite, que operava no Brasil com 23 lojas próprias, e agora prospecta os primeiros franqueados do projeto House of Samsonite, uma loja que reunirá produtos de duas outras marcas do grupo. As primeiras unidades serão abertas este ano. “A diferença da chegada das novas marcas ao franchising neste momento está na necessidade de realizar um trabalho mais consistente, com estrutura e processos muito mais alinhados do que no passado”, afirma Lyana Bittencourt, diretora executiva do Grupo Bittencourt Inteligência em Redes de Franquias e Negócios. “Analisamos uma média de 100 marcas por ano e a maioria ainda não está pronta.”
Disposta a registrar no segmento de franquias o mesmo desempenho que alcançou com lojas próprias, a Le biscuit acumulou a experiência de 50 anos de mercado e 100 pontos de venda para começar a franquear. “Temos um modelo vencedor, resiliente nos cenários mais desafiadores de consumo, replicável e com alto poder de expansão”, diz Roberto Hentzy, CEO da Le biscuit. “O modelo de franquia abre uma nova avenida de crescimento para a rede, em municípios menores, de 50 a 200 mil habitantes. Já mapeamos mais de 300 cidades com potencial de mercado”, afirma ele.
Aberta em 1968, a Le biscuit é a primeira rede de variedades da Bahia, com mais de 20 mil produtos à venda. A partir de 2012, com apoio do fundo de investimentos Vince Partners, apostou na expansão. Nos últimos cinco anos foram investidos cerca de R$ 100 milhões para modernizar a plataforma operacional e tecnológica, para só, então, partir para o franchising.
“A franquia é estratégica para as empresas brasileiras, porque ajuda a marca a chegar a locais onde não chegaria com lojas próprias”, reforça Lyana Bittencourt.
Foi com este pensamento e pressionada pelo interesse do próprio mercado que os sócios Felipe Sanchez e Diego Navarro decidiram entrar para o franchising três anos após criarem a Buh. Trata-se da primeira marca nacional de fashion soccer, isto é, grife esportiva de roupas e acessórios inspiradas no estilo dos “boleiros”. Aberta no auge da crise, cresceu uma média de 40% ao mês entre 2015 e 2017, o que revelou uma carência do mercado para esse perfil de produto.
No ano passado a marca já contava com 300 revendas no país, quando procurou uma consultoria especializada em franquias para avaliar o potencial da Buh no varejo.
“Enxergamos a franquia como um modelo mais saudável para o mercado brasileiro”, afirma o consultor Maurício Machado. A primeira unidade foi aberta em Porto Alegre e a segunda começará a operar em agosto, em São Paulo. A meta é abrir 50 lojas em dois anos. O investimento inicial, fora o ponto, é de R$ 360 mil.
Fonte: Valor Economico
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