A Natura está de olho em um grande ativo internacional: a rede de lojas The Body Shop, hoje nas mãos da multinacional francesa L’Oréal, de acordo com fontes de mercado. A cadeia de cosméticos de apelo sustentável, que hoje tem 3 mil lojas no mundo (sendo 119 no Brasil), foi posta à venda pela L’Oréal no início deste ano. Além da Natura, grandes fundos de investimento internacionais também estariam na disputa. A francesa tem a intenção de arrecadar ¤ 1 bilhão, mas fontes afirmam que o ativo deve sair com desconto de cerca de 20%.
Gigante global dos cosméticos, a L’Oréal comprou a britânica The Body Shop em 2006 por cerca de US$ 1,1 bilhão (em valores da época). Fundada por Anita Roddick em 1976, a empresa tinha a intenção de manter seu perfil sustentável mesmo dentro da estrutura da gigante francesa – o que, segundo analistas, acabou não acontecendo. No ano passado, segundo o jornal britânico The Guardian, a companhia voltou a reafirmar que perseguiria princípios éticos em 2020, entre eles a redução da dependência de embalagens derivadas do petróleo.
A venda do negócio estaria ligada à redução dos resultados da rede de varejo. No ano passado, o faturamento global da The Body Shop teve queda de 5%, para ¤ 920 milhões, enquanto o lucro teve uma baixa de 38% e somou ¤ 33,8 milhões. Ao anunciar esses resultados, no último mês de fevereiro, a L’Oréal confirmou que a divisão estava à venda.
Apesar dos resultados terem piorado, fontes afirmam que a Natura não está sozinha na disputa pela The Body Shop – fundos internacionais de grande porte, com o Advent International, também estariam no páreo.
Aderência. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o negócio tem aderência à estratégia da Natura – a começar pela proposta sustentável, um dos principais ativos da marca brasileira. Mais do que isso, a compra da The Body Shop representaria uma aposta definitiva da companhia na estratégia multicanal. Com 3 mil lojas, a The Body Shop tem hoje uma presença global comparável à da principal rival atual da Natura, O Boticário, que tem 3,9 mil unidades – incluindo alguns pontos de venda no exterior.
Embora a Natura esteja abrindo unidades próprias, disse um analista de mercado que pediu para não ser identificado, a marca “mãe” sempre terá de tentar equilibrar a expansão no varejo tradicional e online para não “canibalizar” as revendedoras de porta em porta, de onde vem a maior parte do faturamento da companhia. Embora tenha anunciado em 2016 que pretendia ter centenas de lojas no País, a empresa ainda não chegou a dez unidades.
No exterior, a companhia já tem experiência no varejo com a rede australiana Aesop, de alto padrão, que foi comprada pela brasileira em duas fases, em 2011 e 2016. Por seu posicionamento “premium”, baseado apenas em itens importados, a rede também tem tido dificuldade para se expandir no Brasil, frisou o analista de mercado. Hoje, a Aesop tem apenas duas lojas em São Paulo.
Uma fonte de mercado diz que, caso o preço de ¤ 800 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) se confirme, trata-se de um valor possível para a Natura. “A empresa tem um nível de endividamento baixo, de cerca de 1,5 vez o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações)”, frisou uma fonte. “Um aumento da alavancagem é possível.”
Procurada, a assessoria de imprensa da Natura não respondeu o contato da reportagem até o fechamento desta edição. A L’Oréal afirmou não ter posição oficial do grupo.
Fonte: Estadão
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