Pouco mais de 80 mil pessoas vivem em Francisco Beltrão, no interior do Paraná. Ainda assim, a cidade fechou o ano com 44 franquias. Somada à vizinha Pato Branco (que é só pouca coisa menor, em número de habitantes), são mais de 80 estabelecimentos com este perfil. O caso representa uma tendência que é nacional: cada vez mais, redes de franquias buscam cidades interioranas para se estabelecer. Hoje, o setor já chega a 42% das cidades brasileiras. E a tendência é aumentar. Em parte impulsionado por polos de desenvolvimento regional e pela busca de maior qualidade de vida, em cidades pequenas e médias. Mas também pela popularização da franqueabilidade como estratégia de crescimento.
Das 142,5 mil unidades de franquias registradas, no Brasil, em 2016, quase a metade (48,2%) está instalada em cidades com menos de 500 mil habitantes. É uma estatística abrangente. Inclui desde os municípios muito pequenos (em geral muito pobres) a polos regionais. Mas indica uma descentralização. A PIB dos municípios de 2014, do IBGE, identificou uma ampla faixa de cidades com renda acima da média nacional no interior de estados do Sul, do Sudeste, e do Centro-oeste.
A criação de polos de desenvolvimento regional é um atrativo para franquias. A região Sudoeste do Paraná, por exemplo, que abriga as cidades de Francisco Beltrão e Pato Branco, foi a que mais criou vagas de emprego, entre janeiro e dezembro do ano passado (2016), segundo pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O estado como um todo ficou com saldo negativo. A Grande Curitiba extinguiu 19,5 mil postos de trabalho no período.
A expansão do setor de franquias (que cresceu 8,8% no ano passado) torna o interior um caminho natural. “No passado era muito concentrado nos grandes centros, principalmente Rio de Janeiro e, mais ainda, São Paulo”, explica Claudia Bittencourt, da consultoria Bittencourt, especializada em redes de negócios e franquias.
É uma evolução de mão dupla. Mais empreendedores investem seu dinheiro em franquias, muitas vezes atraídos pela facilidade. “Já tem uma garantia de mercado, formato, casos de sucesso, então os riscos são menores”, avalia o coordenador de varejo do Sebrae Paraná, Osmar Dalquano Junior.
Além disso, mais empresas regionais vislumbram o sistema de franquias como uma boa opção. E a orientação de Claudia é começar justamente pelo quintal de casa. “Se a empresa está em Goiás, a gente orienta que comece a expansão onde ela está localizada e cresça em forma de espiral, até para conseguir dar suporte para os seus franqueados. Se ela abre direto em Belém, por exemplo, vai ser muito mais custoso”.
Além disso, começar pequeno é uma forma de testar o modelo franquia. Ir direto para um mercado como São Paulo, onde a concorrência é gigante, é correr o risco de não dar certo e queimar a marca.
Outros aspecto é cultural. “Tem um movimento de qualidade de vida que é mundial. as pessoas querem viver em lugares onde tem segurança, escola mais perto, não tem trânsito”, comenta Fabiana Estrela, da ABF. Ao mesmo tempo, o mundo globalizado expande o acesso a marcas e serviços para além das cidades onde as empresas estão instaladas. “As vezes eu quero morar num lugar menor, mas ter o status de ter um Boticário na minha cidade”, exemplifica Fabiana.
Recentemente, a escola de idiomas CNA mapeou 442 municípios no Brasil todo com potencial para abertura de negócios. A empresa criou um modelo de franquias especial para cidades com até 75 mil habitantes, mais enxuto, com investimento inicial de R$ 123 mil. Além disso, a rede promete ajudar novos franqueados com até R$ 55 mil em benefícios.
Na Quinta Valentina, rede de venda direta de sapatos femininos, a ordem é investir em cidades com até 100 mil habitantes. A meta é vender 65 franquias até o final de 2017, sendo 45 no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de outras 20 no Norte e Nordeste do país. O investimento inicial da marca é de R$ 20 mil.
No Paraná, a telefônica Oi está em busca de cidades em 11 cidades do interior. A Chiquinho Sorvetes também está de olho, e listou 12 cidades paranaenses onde pretende abrir suas lojas. A escola CNA listou 29 cidades com potencial de abertura, no estado.
CNA, Quinta Valentinha e Oi já estão fazendo esse caminho
Recentemente, a escola de idiomas CNA mapeou 442 municípios no Brasil todo com potencial para abertura de negócios. A empresa criou um modelo de franquias especial para cidades com até 75 mil habitantes, mais enxuto, com investimento inicial de R$ 123 mil. Além disso, a rede promete ajudar novos franqueados com até R$ 55 mil em benefícios.
Na Quinta Valentina, rede de venda direta de sapatos femininos, a ordem é investir em cidades com até 100 mil habitantes. A meta é vender 65 franquias até o final de 2017, sendo 45 no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de outras 20 no Norte e Nordeste do país. O investimento inicial da marca é de R$ 20 mil.
No Paraná, a telefônica Oi está em busca de cidades em 11 cidades do interior. A Chiquinho Sorvetes também está de olho, e listou 12 cidades paranaenses onde pretende abrir suas lojas. A escola CNA listou 29 cidades com potencial de abertura, no estado.
Impulso dos shoppings centers colabora para levar franquias para o interior
Um impulso é a consolidação dos shoppings centers no interior do país. Segundo dados da Abrasce, associação nacional do setor, mais da metade dos shoppings se encontram fora das capitais. Em 2015, dois terços das inaugurações foram em cidades de interior (não necessariamente cidades pequenas. Dos 18 shoppings abertos em 2016, apenas sete foram em capitais. Hoje, a Abrasce estima que 205 cidades do país tenham seus próprios malls.
O movimento realizado há alguns anos pelo setor, aliás, é muito parecido com o que vivem hoje as franquias. “Começaram muito concentrados nas capitais, e hoje qualquer cidade com mais de 50 mil habitantes tem shoping. São cidades promissoras, com renda per capita interessante, onde a concentração de produtos não é tão grande, e a concorrência é menor”, resume o consultor do Sebrae Osmar Dalquano Junior.
De olho no fenômeno “modinha”
Uma famosa franquia de chocolates abriu loja na pequena Altônia, divisa do Paraná com o Mato Grosso do Sul. Logo fechou. Em São Bento do Sul, na Serra catarinense, uma rede internacional de sanduíches cerrou as portas meses após a inauguração. É um fantasma que ronda franquias de cidades pequenas: o risco de ser uma modinha, que dá certo no começo, mas logo é abandonada pela população.
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, no entanto, não veem este como um problema interiorano. Mas como um risco inerente a todo negócio, que talvez passe despercebido em grandes cidades. “O grande desafio de qualquer loja é fazer o seu produto ser relevante para o consumidor”, e aí é importante dedicar um bom tempo para planejar a entrada em uma cidade, alerta Osmar Dalquano Junior, do Sebrae Paraná.
A consultora Claudia Bittencourt alerta que cabe ao dono da franquia fazer estudos que levem em conta o perfil de uma região (se é impulsionado pelo agronegócio, tem um shopping center, abriga concorrentes, etc), antes de indicar uma cidade para expansão. Mas que é importante que o empreendedor cobre este estudo. Principalmente no começo, ambos lados devem estar em contato constante para adaptar as estratégias para aquela determinada região.
Outro lado da moeda
Profissionais com 11 anos de experiência no mercado financeiro, Fabio Degani e Marcelo Pinto investiram R$ 50 mil para assumir o quiosque de uma franquia de alimentação, em um shopping no interior paulista. Seis meses foi o tempo que levaram para ver que o negócio “era inviável sob todos os pontos de vista”.
Boa parte do faturamento era gasto em royalties para o franqueador, e o engessamento do modelo de negócios dava pouca margem para que a criatividade dos empreendedores pudesse agir. Hoje ambos investem seu dinheiro em negócios próprios, de forma independente. E viraram críticos do modelo.
“O mercado de franquias é muito glamourizado, o que leva a uma crença generalizada de que é um tipo de negócio de retorno garantido e fácil [o que não é verdade]”, apontam. “O franqueador é mais interessado em expandir do que em desenvolver sua rede. Enquanto o franqueado vende produtos, o franqueador vende lojas”. O que geraria um fenômeno em que as redes não ligam tanto se o lojista está tendo lucro ou não.
Fonte: Gazeta do Povo
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