No mundo atual, a correria do dia a dia, as inovações tecnológicas, e toda a profusão de informações que somos impactados diariamente, acabam por nos fazer olhar para o passado e tentar resgatar algo que faça sentido ou que nos conforte.
Isso já se refletiu em muitas situações como a onda retrô que invadiu o varejo e a prestação de serviços, e nas empresas que optam por criar uma conexão afetiva e não apenas comercial com seus clientes, dando uma sensação de acolhimento.
E acontece também no mundo corporativo, no qual as lideranças das empresas também sofrem todos esses impactos do mundo moderno e ainda tem que lidar com a alta expectativa de seus liderados de que solucionem todos os seus problemas no trabalho.
Esse processo de dependência nos remete à infância em que nossos pais nos diziam o que fazer (e o que não fazer) e como. Nessa fase da vida, recebemos ordens e acatamos. Estamos condicionados à autoridade que os pais têm sobre nós.
Na adolescência, começamos a colocar em prova esse modelo, desafiando as ordens e questionando o que nos é imposto.
Com o passar do tempo, passamos a perceber que as relações podem ser de troca, de compartilhamento. Quando procuramos um amigo para falar de algo que nos incomoda, estamos buscando troca de experiências e conforto. Confiamos nessa pessoa e por isso, compartilhamos nossas angustias. E essa confiança nada tem a ver com autoridade.
Na fase adulta, no trabalho, começamos a perceber pessoas que nos inspiram, aquelas que sabemos que podem nos conduzir para um caminho de construção e de conhecimento. Começamos a identificar pessoas que tem perfil de liderança. Nessa fase fica claro que autoridade nada tem a ver com inspiração e confiança.
Se tivermos passado por esse processo evolutivo que traz a maturidade necessária para lidar com as diferentes responsabilidades e atribuições da vida adulta, teremos a capacidade de lidar com frustrações e incertezas, sabendo que as escolhas que fazemos tem impacto em nossas vidas e principalmente aceitando que não sabemos de tudo.
Ou seja, teremos passado por esse processo evolutivo com louvor.
Porém, o que vemos hoje são profissionais em idade madura – e aqui incluo tanto líderes quanto liderados – que ficaram presos ao estágio inicial da evolução. Confundem a autoridade com liderança e buscam que o outro traga soluções para seus problemas. A exemplo de um funcionário que espera que seu gestor tenha todas as respostas para todas as questões que envolvam sua atividade e a empresa. Ou de líderes que se sentem oprimidos por acreditarem que têm a obrigação de solucionar e resolver tudo – caso contrário sua função será colocada em xeque.
E é aí que entra o aprendizado que absorvemos da Teoria da Evolução de Darwin, quando ele trata da seleção natural com a máxima: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Fica clara a relação da teoria com as empresas.
Hoje é cada vez mais premente a necessidade de adaptação para sobrevivência tanto de profissionais quanto de empresas. Não cabe mais confundir autoridade com liderança.
Uma pessoa com autoridade – ou seja, que ocupa altos cargos – geralmente recebe uma dose de crédito de confiança, pois acredita-se que se chegou até lá é porque tem competências que a levaram a ocupar essa função. Porém com o passar do tempo, dois caminhos podem acontecer. Seus liderados podem reconhecer além da competência técnica que o colocou no cargo – um conjunto de repertório, conhecimento e experiência – e também a liderança exercida – ou seja, escuta ativa, compartilhamento, inspiração – ou, passam a questionar sua posição justamente por não liderar e apenas ordenar.
O grande desafio nesses dois casos é distinguir trabalho técnico do adaptativo. Devido às mudanças constantes do ambiente, não temos respostas para tudo o tempo todo. E precisamos ser mais adaptativos, assim como na natureza, que os animais precisam mudar conforme a alteração do seu ambiente para sobreviver.
Uma liderança adaptativa exige desenvolvimento de competências, abertura, adaptação. É mobilizar as pessoas mesmo diante de desafios que mudam a toda hora. Não está vinculada a status, poder ou autoridade.
Para exercer esse papel de líder adaptativo, é preciso saber que você nem sempre vai ser o propagador de boas notícias. Muitas vezes será você quem dirá para as pessoas que elas terão que mudar, e isso pode ter a representação de perda de algo. Isso deve ser encarado com naturalidade, pois deve-se conduzir os liderados a seguir em frente.
Apesar de reconhecer “as dores” dos liderados, para efetivamente exercer seu papel de líder adaptativo, é importante focar no que se ganha com a mudança, os benefícios, e mobilizar as equipes frente às perspectivas positivas futuras.
Nesse processo, cabe aprender com a mãe natureza, no seu processo de seleção natural. Ela sabiamente escolhe num cenário de mudanças, o que é necessário manter, o que deve ser descartado, e o que precisa ser desenvolvido. Os líderes devem da mesma forma, escolher também num cenário de mudanças, o que da cultura deve ser mantida, a sua essência, o que deve ser descartado, o que não cabe mais no cenário em que está inserido, e o que deve ser desenvolvido, já que precisa se preparar para o novo ambiente.
E você? Em que estágio evolutivo está?
Artigo inspirado no livro de Ronald Heifetz, Liderança Adaptativa