Só cinco de 50 segmentos ficam no azul em 2016

Só cinco de 50 segmentos ficam no azul em 2016

Setor de franquias foi um dos que conseguiu atravessar a crise sem maiores impactos O ano que muitos querem esquecer foi de sucesso para quem soube ver, na crise, oportunidade para crescer. O grupo dos que se despedem de 2016 no azul é heterogêneo. Inclui desde os que viram o volume de trabalho aumentar por causa dos sintomas da recessão, como escritórios de recuperação judicial, até grandes companhias que se prepararam para o momento difícil, pouparam e aproveitaram oportunidades para expandir os negócios. Segundo economistas, setores e empresas que tiveram bom desempenho não têm, necessariamente, características em comum. Segmentos exportadores, como o de celulose, aproveitaram o dólar alto para crescer. Outros foram poupados por serem, naturalmente, mais resistentes à crise. Em outros casos, o diferencial foi o perfil mais conservador e o baixo endividamento, que varia de empresa para empresa. De acordo com as três principais pesquisas mensais do IBGE, só cinco atividades — de um total de 50 segmentos dos setores de serviços, comércio e indústria — apresentaram números positivos em produção ou vendas no acumulado do ano até outubro (último dado disponível). O destaque foi a fabricação de celulose, que avançava, até aquele mês, 2,3%. Houve altas também na indústria de alimentos (1,1%), na fabricação de produtos de madeira (0,3%), nos serviços de tecnologia da informação (0,8%) e no transporte aéreo (0,8%). — Os setores que já vinham bem, por serem mais resilientes, conseguiram passar imunes pela crise. Além disso, beneficiou-se quem soube navegar, quem se preparou para o pior e não deixou para fazer os ajustes na última hora — avalia Marco Saravalle, analista da XP. Para analistas, o dólar alto está por trás do desempenho positivo do segmento de celulose. O setor pode fechar o ano com o melhor resultado desde 2010, quando cresceu 4,5%, embalado pelo bom momento da economia à época — naquele ano, o PIB avançou 7,5%. A economista Tereza Fernandes, diretora da MB Associados, acompanha o setor e avalia que o desempenho deve se repetir em 2017. Ela lembra que há demanda, principalmente, na China: — O consumo chinês está fazendo com que se consiga colocar no mercado uma quantidade maior de produtos. Nossa fibra curta (usada em papel higiênico, guardanapos, papéis para imprimir) está ganhando espaço no exterior. Apesar das exceções, Felipe Beraldi, analista da Tendências Consultoria, lembra que os avanços são pequenos diante das perdas da indústria: — De modo geral, alguns segmentos industriais foram positivamente impactados pela desvalorização do câmbio, mas essa crise bateu muito forte em setores importantes, como construção civil e bens de capital, que sofreram muito. A importância do planejamento As histórias de quem viu os lucros aumentarem poderiam, à primeira vista, parecer questão de sorte. Mas, por trás de resultados sólidos durante a crise, pequenos empresários e profissionais liberais relatam uma combinação de fatores que inclui, essencialmente, gestão conservadora, preparativos para uma eventual piora no cenário e busca de oportunidades para lucrar em um ambiente econômico menos favorável. Foi o caso do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral (ITC), uma franquia de clínicas de fisioterapia, que fechará o ano com alta de 10% no faturamento, auxiliada pelo alto índice de clientes estressados com a crise. O fundador da rede, Helder Montenegro, explica que cerca de 25% dos pacientes procuram a clínica por causa de dores nas costas, sintoma relacionado à tensão. O empresário, que é fisioterapeuta, observa que o momento complicado reforça a tendência de maior procura por esse tipo de serviço, embora a alta na demanda ainda não tenha aparecido nas pesquisas. — Tem relação (com o aumento do estresse). Nesse período, há um estresse maior. Nas cidades grandes, sempre existiu. São pacientes com dores nas costas que somatizam com a crise, perdas e traumas — afirma.
Além de ter atraído mais pacientes, o ITC ampliou o número de franqueados. Só em 2016, sete novas unidades foram abertas. Hoje, são 80, espalhadas por 24 estados. Montenegro atribui o sucesso ao trabalho de prospecção em redes sociais. O esforço foi convencer profissionais da área a desembolsarem R$ 80 mil para abrir uma franquia da marca. — Fizemos muitos vídeos falando sobre gestão. Trabalhei mais minha imagem como gestor do que como fisioterapeuta. Para o ano que vem, já fechamos a abertura de quatro unidades — conta. Franquias em alta O negócio surfou na onda de crescimento do setor de franquias. Segundo dados mais recentes da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento do segmento avançou 8,8% no terceiro trimestre, frente ao mesmo período do ano passado. A receita movimentada chegou a R$ 38,8 bilhões. A expectativa é de alta no balanço fechado. Segundo o vice-presidente da ABF, Altino Cristofoletti Junior, as franquias oferecem mais segurança e podem ser uma opção para quem perdeu o emprego e resolveu investir no próprio negócio. — O risco de começar um negócio novo sozinho é muito maior — afirma o executivo, que elenca os setores de bem-estar, saúde e alimentos entre os mais bem-sucedidos. Em tempos de crise, muitas empresas adotam a busca de eficiência como mantra. É nesse nicho que a Bridge Consulting, consultoria de governança e tecnologia da informação, atua. Criada em 2010 por um grupo de recém-formados da Coppe/UFRJ, a empresa prevê alta de 30% no faturamento. Sócia-diretora da companhia, Carolina Abrantes explica que o segredo para o sucesso foi o foco em áreas consideradas essenciais para os clientes, que podem servir para diferenciá-los dos concorrentes. — As empresas, em momento de crise, têm restrições de contratação. Elas podem não investir em equipe, mas têm algum recurso para consultoria. Tentamos atuar em processos críticos e entregar resultados que sejam altamente perceptíveis a curto prazo, para que o cliente veja nosso trabalho como essencial para sobreviver — resume. Foi outro sintoma da crise, a inadimplência, que ampliou o mercado para empresas como o Grupo Cercred, especializado em recuperação de crédito. A companhia, que cobra dívidas em nome de grandes bancos e financeiras, ampliou equipe, investiu em tecnologia e criou incentivos para quem bater metas: premia com motocicletas, tablets e smartphones os funcionários que fecham mais acordos. Como resultado, viu o volume de dívidas recuperadas com pessoas físicas crescer 9%. — Os clientes estão exigindo muito em política de segurança da informação, tecnologia e assertividade. Então, ganhamos mercado com boas políticas implantadas — conta Leonardo Coimbra, sócio-diretor da Cercred. Em uma recessão como a que o país atravessa, que pode ser a maior em cem anos, muitas empresas sucumbem. O advogado Julio Mandel, sócio da Mandel Advocacia, vive de ajudar quem está lutando para não fechar. Seu escritório, especializado em direito falimentar, multiplicou o volume de trabalho em 2016, quando houve recorde de pedidos de recuperação judicial. Segundo dados da Serasa Experian, 1.718 negócios requereram proteção contra credores, alta de 51,1% frente ao ano passado. Mandel não revela números, mas conta que precisou investir em mais pessoal para dar conta do trabalho. Embora ganhe com o cenário, o advogado destaca que o setor não torce por mais falências. — O trabalho aumentou, mas o faturamento não cresceu na mesma proporção. Para o escritório, o ideal era que a economia voltasse a melhorar. Quando a crise é forte demais, não é bom para ninguém — pondera. Fonte: PEGN Leia mais notícias no Portal, clicando aqui. Conheça os serviços do Grupo BITTENCOURT "

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