Em momentos de crise no mercado de trabalho, apostar em um negócio próprio torna-se uma das poucas opções para quem precisa de renda. Atentas à oportunidade, as franquias aumentaram a oferta de modelos de pontos de venda mais enxutos para manter o crescimento durante a crise. A estratégia é atuar em mercados menores e ganhar fôlego para conquistar território, mesmo em centros urbanos aparentemente saturados.
Na região Sudeste, a quantidade de franquias que oferecem formatos menores, somadas às que operam exclusivamente com esses modelos compactos, já é superior ao volume das que operam unicamente com os modelos tradicionais, de 59,8 % e 56,3%, respectivamente, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A oferta de modelos compactos de franquias deve crescer em todo o País”, avalia o diretor de inteligência de mercado e sustentabilidade da entidade, Claudio Tieghi.
Segundo pesquisas da entidade, das 557 marcas que oferecem microfranquias, 79,8% atuam exclusivamente com este modelo. Do total de redes, 36% das que não têm este formato pretendem desenvolvê-lo. E, para 20,2% das marcas que já atuam nos dois formatos, as microfranquias representam 42% das unidades.
Se por um lado a retração econômica traz maior flexibilidade para se chegar ao negócio próprio, por outro exige mais cautela do candidato. Especialistas reforçam o alerta frequente de que é necessário investir na área com a qual se tenha afinidade, aumentando as chances de sucesso, e aproveitar o benefício do sistema de franquias, que permite avaliar experiências tanto positivas quanto negativas de ex-franqueados, uma vez que os contatos devem ser informados pelo franqueador. Além disso, é preciso avaliar bem o setor.
Haverá uma continuidade da fuga de consumidores neste ano e cita três pontos que ganham ainda mais peso neste cenário: ser seletivo na escolha do ponto, optar por um negócio com o qual tenha identificação e ter muita dedicação. Não basta apenas um local de grande público, é preciso identificar onde está o público-alvo. Se há a desvantagem da perda de consumo, há muitos pontos disponíveis por bons valores. E o candidato não deve optar por um negócio porque é moda, barato, ou porque deu certo para um amigo. É preciso forte identificação.
A capacidade de inovação é outro ponto-chave, avalia a diretora-geral do Grupo Bittencourt, Claudia Bittencourt. “Não basta o franqueador estar muito tempo no mercado. O candidato a franqueado precisa apurar o nível de evolução tecnológica e inovação da empresa. Se ela estiver parada no tempo, é um problema. Todos os negócios que podem ser substituídos por tecnologia ou por uma plataforma com vários fornecedores representam um risco”, diz.
Claudia destaca os negócios digitais, de economia colaborativa, tanto pelo potencial de mercado que oferecem como pelo risco que podem representar para uma marca que não estiver atenta às mudanças. “Eles tanto tornam negócios obsoletos de um dia para o outro como os tornam extremamente atrativos, com crescimento exponencial”, afirma. Ela cita como exemplos plataformas, como as que permitem alugar o carro de um proprietário enquanto ele não utiliza, ou ainda alugar quartos em residências, como atividades que podem afetar modelos tradicionais.
Neste ano, entre as marcas que passam a oferecer opções de formatos com investimento exigido mais baixo está a sexagenária Tip Top, de vestuário infantil. Com 110 lojas espalhadas pelo País e dez megastores, a rede lança o formato quiosque, que requer investimento de R$ 150 mil, ante a média de R$ 400 mil de uma loja tradicional. A iniciativa teve dois motivos: a necessidade de crescer cada vez mais para o interior dos estados, onde muitas vezes o investimento em uma loja convencional fica pesado; e o momento econômico, no qual enfrenta queda na procura e falta de capital dos interessados, diz o gerente de expansão da rede, Ricardo Marcondes.
Os quiosques vão oferecer produtos para crianças com até 4 anos, 80% do público da marca, e o mix deve variar de acordo com a cidade e a estação do ano. A expectativa é abrir pelo menos quatro quiosques e entre dez e 12 lojas em 2017. No ano passado, foram abertas sete lojas e a receita cresceu 5%, para R$ 122 milhões.
A franquia de alimentação Jin Jin também espera avançar com quiosques da Jin Jin Sushi neste ano, com a abertura de cinco unidades, diz o superintendente da rede, Maurício Albuquerque. “Fizemos ajustes na operação e estamos preparados para crescer, diz o diretor de marketing, Christiano Evers. A rede faturou R$ 130 milhões em 2016, com 77 lojas e concentração na região Sudeste. Neste ano pretende se fortalecer também em outras regiões, como a Nordeste, de acordo com Albuquerque.
Já a Contém1g, que voltou à venda direta no ano passado, aderiu ao multinível para acelerar a expansão. “Com a venda direta tradicional, o ritmo ficou aquém das expectativas”, conta o presidente da empresa, Rogério Rubini. “Analisamos as alternativas e concluímos que seria válido entrar no modelo multinível, adotado em 90% dos casos de venda direta nos EUA.”
Com isso, informa Rubini, a marca conhecida do mercado atraiu inclusive líderes que atuam com o sistema para outras marcas, e são hoje 7 mil consultores ativos. Para impulsionar essa expansão, a Contém1g oferece lojas virtuais individuais para facilitar a venda desses consultores e amplia os itens ofertados. Além de maquiagem e perfume, passa a oferecer também produtos para o cuidado com a pele, esmaltes e itens específicos para o público masculino. “É uma necessidade adotar diversos canais alternativos”, acredita Rubini, que espera iniciar em meados do ano a produção própria de fragrâncias, com capacidade anual para 14 milhões de unidades. A rede, que planeja abertura de capital, faturou R$ 125 milhões no ano passado.
Já a rede Mercadão dos Óculos, que passou a oferecer o modelo móvel no ano passado, com trucks, informa que as expectativas para o novo formato não se confirmaram. “Quem investiu preferiu as lojas tradicionais”, afirma o diretor de expansão, Gustavo Freitas. Foram vendidas 70 unidades e o faturamento, considerando as mesmas lojas, aumentou 15%. A receita ficou em R$ 50 milhões. Quase 40% das novas lojas (27), foram adquiridas por franqueados que já estavam na rede. Um movimento crescente em franquias. Conforme a rede fica mais madura, o franqueado paga a primeira unidade e acaba reinvestindo no negócio. A taxa de franquia tem um desconto significativo e o franqueado ganha escala de compra de mercadorias, explica Freitas.
O administrador de empresas Pedro Fargetti abriu suas duas primeiras unidades da lavanderia 5àsec há onze anos. Atualmente, junto com o primo, comanda dez delas, mas todas próximas, na Zona Norte e Zona Oeste da capital paulista. Para cuidar de um negócio desse porte foi montado um escritório central e toda estrutura de gerenciamento on-line das lojas. Nos últimos dois anos, os sócios decidiram diversificar e adquiriram duas franquias da marca argentina Havana.
“A franquia passa uma segurança, mas mesmo assim é preciso conferir se é só no papel ou de verdade. É bom porque tem com quem discutir ideias, melhorar junto, às vezes sozinho, o empresário fica fechado no seu mundo. Se você não consegue falar com alguém, melhor nem abrir, a não ser que conheça muito bem a marca, acredite muito na marca, mas é muito mais arriscado”, afirma Fargetti.
O franqueado da rede Ortodontic Márcio Yamaguchi atribui à segurança de já estar no negócio e acreditar na marca o fato de manter atualmente três franquias da rede. As duas primeiras foram abertas em 2010 e 2015 em parceria com a esposa, em Joinville (SC), e a terceira foi aberta em Brusque (SC) há três meses, com dois sócios, franqueados da rede em Itajaí (SC) e São Bento do Sul (SC). Os três já decidiram também pela instalação de outras duas unidades na capital catarinense em 2017. Para manter a qualidade de atendimento, eles estão investindo no treinamento dos dentistas.
O potencial de expansão particularmente nas cidades do interior é expressivo. De acordo com dados da ABF, a presença das franquias nos municípios cresceu 2% no ano passado, já há operações no sistema em 2.321 cidades, mas são 5.570 municípios. A maior quantidade de unidades, 51,8%, está em cidades com mais de 500 mil habitantes, 27,2% em municípios com até 200 mil habitantes e 21% em cidades com 200 mil a 500 mil habitantes, informaTieghi. Ele diz que o candidato deve estudar o segmento, participar de processos de seleção de pelo menos três marcas para verificar com qual tem maior identificação.
Entre os negócios com potencial de crescimento, a diretora do grupo Bittencourt diz que “boas apostas são franquias de negócios que promovem conforto e bem-estar, como clínicas para atendimento de idosos e clínicas especializadas em fisioterapia”. Ela acrescenta negócios com flexibilidade de horários e preços, como academias nas quais não é necessário comprar planos e plataformas de ensino com horários flexíveis. “Tudo isso está crescendo”, reforça. Segundo a ABF, a mortalidade em franquias ficou em 5,1% no ano passado e o número de redes caiu 1,1%, para 3 mil.
Tieghi, da ABF, inclui outros dois segmentos na lista dos que oferecem boas oportunidades para este ano: serviços automotivos, que devem ter maior demanda com os novos recursos de mobilidade urbana e são impulsionados pela crise, e o setor de moda, beneficiado pela redução da inflação. Em 2016, destacaram-se os segmentos de casa e construção, que vinha sofrendo com a crise e apresentou expansão de 13% em número de unidades; saúde, beleza e bem-estar, que mesmo com a aposta das marcas na venda direta elevou em 11,9% o número de lojas; e o de comunicação, informática e eletrônicos, com 8,5% mais unidades, no qual se incluem as operações de e-commerce. Tieghi ressalta também o segmento dos PETs, que cresce com a oferta de diferentes serviços, como a formação de redes de farmácias de manipulação, mas ainda não é computado isoladamente nas pesquisas da ABF.
Fonte: DCI